Quando me perguntam como eu faço para conseguir escrever 'tão bem', sempre me lembro dessa fábula que a historiadora Carmen Iglesias contou em seu interessante discurso de pose na Academia da Língua.
Uma barata má e invejosa, irritada porque a centopeia tinha muito mais patas do que ela, disse um dia com tom de adulação:
"Que graça maravilhosa você possui ao caminhar, que coordenação incrível, não sei como consegue se locomover tão sinuosa e facilmente com todas essas patas, poderia me explicar como faz?"
A centopeia, vaidosa, estudou-se a si mesma e depois com toda boa vontade informou o procedimento:
"É muito fácil; basta mexer as cinquenta patas do lado direito para adiante enquanto mexe para trás, sincronizadamente, as cinquenta do lado esquerdo, e vice-versa".
A barata fingiu admiração:
E a centopeia nunca mais conseguiu se mexer.
Escrever significa não pensar. Porque o pensamento racional
e a consciência do eu destroem a criatividade.
O conhecimento e a vontade não podem se meter.
Respondendo a pergunta do começo,
penso que sou iluminada pela mesma graça cega
que fazia o pobre inseto caminhar.
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